Colóquio Internacional - Iniciar uma língua na universidade

Colóquio Internacional ALADUN2025

Datas: 23 e 24 de junho de 2025 (segunda e terça-feira)

Université Grenoble Alpes

Iniciar uma língua na universidade: diversidade de experiências vivenciadas

Para além do uso já bem estabelecido do inglês como língua franca, os indivíduos vivenciam experiências plurilíngues diversas que ocorrem em muitos contextos (profissional, acadêmico, relacional, de lazer, online ou presencial) e que testemunham a natureza multilíngue das interações características do mundo de hoje (Kalaja & Melo-Pfeifer, 2024). Essa pluralidade é encontrada em muitas ofertas de formação em línguas na universidade. Os diferentes cursos oferecem em seus currículos opções de línguas ou as chamadas disciplinas optativas ou transversais que os estudantes podem escolher para descobrir novas línguas e culturas. Embora estas disciplinas eletivas ofereçam aos estudantes a possibilidade de continuar a estudar uma língua que aprenderam no ensino secundário /Ensino Médio, elas também podem, para muitos, representar uma oportunidade de começar a estudar línguas que nunca aprenderam antes. 

Em alguns cursos, por exemplo na didática do Francês Língua Estrangeira, essa oportunidade assume a forma de uma experiência vivenciada com um objetivo reflexivo por meio da escrita de diários de aprendizagem (Cadet, 2007). De fato, desde o início da década de 1980, podemos observar um interesse pela “experiência de um sujeito na sala de aula, seja no lugar do professor ou do aluno” (Cicurel, 2015, p. 38). De forma mais ampla, a pluralidade linguística do ensino de línguas oferecido na universidade dá origem a diferentes escolhas pessoais e a experiências de ensino-aprendizagem altamente diversificadas.

É esta área específica do ensino-aprendizagem de uma língua para iniciantes, e de seu uso, que está no centro da ação de pesquisa ALADUN (ensino/Aprendizagem de Línguas para iniciantes na UNiversidade) do Laboratório Lidilem, e que propomos explorar no âmbito deste colóquio através do prisma da experiência vivenciada.

Se a importância da dimensão experiencial pode ter sido ofuscada, por um tempo, pelo caráter utilitário associado às competências descritas e destacadas no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (Longuet & Springer, 2021), ela é novamente mencionada em publicações recentes que lembram, em particular, o lugar da experiência vivenciada nos modelos didáticos existentes (Puren, 2022) e sublinham que “o paradigma da experiência é hoje essencial no ensino de línguas” (River, 2019, p. 106).

 A experiência da língua está ligada à vivência dos aprendizes, através de diferentes formas que Puren qualifica como “componentes nocionais” da experiência, citando entre outros o autêntico, o espontâneo, o afetivo, o emocional, o prazeroso, o relacional, o interativo, ou ainda através de abordagens pedagógicas que mobilizam uma dimensão artística, imaginativa ou artística (Puren, 2022). Essas dimensões fazem eco aos trabalhos que se interessam aos imaginários associados ao ensino-aprendizagem de línguas (Muller, 2021), ao lugar e ao papel do corpo e das emoções (Eschenauer, Tellier & Zapa, 2022) ou à contribuição das práticas artísticas (Aden, 2008). Podemos incluir neste movimento as abordagens biográficas (Molinié, 2013) que destacam as experiências vivenciadas pelo sujeito.

A experiência linguística, enfim, entendida como um uso repetido que permite alcançar uma certa intimidade com a língua aprendida, pode também ser vista como um meio e uma oportunidade para considerar o objeto língua de uma forma diferente das descrições formais ou conceptuais, ou seja, dando lugar à dimensão afetiva, familiar e expressiva da língua (Saussure, 2024). A prática da língua aprendida contribui para a constituição de um imaginário, para o desenvolvimento de uma familiaridade com a língua-cultura e pode dar origem a emoções (positivas ou negativas) que fazem parte da experiência linguageira e da experiência de aprendizagem (Guedat-Bittighoffer & Dewaele, 2024).

Poderíamos pensar que as experiências de uso situado - experiências de mobilidade, por exemplo - raramente dizem respeito a aprendizes iniciantes, e as oportunidades de contato com falantes ou recursos linguísticos disponíveis fora da aula para línguas diferentes do inglês são aliás raramente mencionadas em estudos sobre atividades informais. No entanto, o contato com falantes ou elementos culturais da língua-alvo também pode fazer parte das experiências vivenciadas, independentemente do nível de competência adquirido. O colóquio poderá, desta forma, constituir uma oportunidade para destacar experiências ligadas ao uso da nova língua em aprendizagem na universidade em circunstâncias ou situações além do contexto da aula.

Embora a experiência vivenciada seja frequentemente centrada no aluno, não podemos negligenciar a perspectiva dos professores, que também podem ter uma experiência particular de ensino com um público de aprendizes iniciantes. Surgem então questões relativas às representações a serem construídas ou desconstruídas, às posturas adotadas, ao planejamento didático e à ação no campo de pesquisa.

O objetivo do colóquio será, portanto, analisar o início de uma aprendizagem linguageira nova e a descoberta de uma língua-cultura do ponto de vista da vivência, explorando diferentes facetas da experiência que pode ser vivenciada tanto por alunos quanto por professores. Esta experiência pode ser coletada a partir de uma variedade de fontes (entrevistas, questionários, diários de aprendizagem, registros dos professores, relatos de experiências, sequências de aulas filmadas, etc.). 

De um ponto de vista do aprendiz, a experiência pode estar relacionada com:

  • as expectativas e representações iniciais versus a realidade da experiência realizada;

  • o lugar dado às experiências anteriores de aprendizagem ou de utilização da língua (em relação à língua que está sendo aprendida ou a outras línguas);

  • a materialidade da língua e a sua experiência em nível corporal, sensorial e/ou emocional;

  • a percepção de proximidade ou de distância em relação a um sistema de referências forjado pela L1 ou por línguas já conhecidas, mas também por elementos de ordem espacial, sociocultural ou afetiva;

  • os vínculos que podem ser estabelecidos com experiências vividas fora da sala de aula (através de atividades mais informais ou de oportunidades de encontro ou de utilização da língua-cultura aprendida).

A experiência poderá também ser entendida do ponto de vista do professor, focando:

  • na forma como os professores vivenciam a experiência de ensinar para aprendizes iniciantes e adaptam suas ações a esse público;

  • na forma como os professores moldam ou procuram moldar a experiência vivenciada pelos aprendizes iniciantes;

  • na concepção que o professor tem da aprendizagem e da língua para um nível iniciante (em relação a outros níveis de proficiência);

  • nas abordagens pedagógicas destinadas a suscitar uma experiência envolvendo o corpo;

  • nos dispositivos suscetíveis de proporcionar aos aprendizes uma experiência com tecnologias digitais (dispositivos imersivos, telecolaboração, serious game, entre outros exemplos);

  • na utilização de diferentes recursos permitindo ancorar a aprendizagem numa experiência criativa, literária ou intercultural;

  • no impacto das experiências vivenciadas pelos professores, incluindo sua formação, suas posturas e práticas no contexto de início de aprendizagem.

As propostas podem se enquadrar em um ou mais dos temas mencionados, esta lista não sendo exaustiva. O colóquio pretende ser um espaço de reflexão e troca com base em trabalhos de pesquisa ancorados no campo de pesquisa e nas práticas e, como tal, são incentivadas comunicações baseadas em abordagens participativas ou colaborativas (Miguel Addisu & Thamin, 2020).

As propostas de comunicação oral podem versar sobre qualquer língua aprendida e ensinada na universidade. Aceitamos resumos nas seguintes línguas: espanhol, francês, inglês, italiano e português. As comunicações orais devem ser apresentadas em uma das línguas mencionadas acima e os slides devem ser redigidos em francês.

Referências

Aden, J. (dir.). (2008). Apprentissage des langues et pratiques artistiques. Créativité, expérience esthétique et imaginaire. Paris : Éditions Le Manuscrit. 

Cadet, L. (2007). La genèse des « journaux de bord d’apprentissage ». Le français aujourd’hui, n° 159(4), 39-46.https://doi.org/10.3917/lfa.159.0039 

Cicurel, F. (2015). De l’interaction à la réflexivité : inventivité des pratiques et ressources pour l’action. In Defays, J.-M.  (dir.). Faits et gestes de la didactique du français langue étrangère et seconde de 1995 à 2015. (pp. 37-52).  Louvain-la-Neuve : EME éditions.

Eschenauer, S., Tellier, M., & Zappa, A. (2022). Encorporer les langues vivantes : Reconnaître la place du corps pour enseigner et pour apprendre. TIPA. Travaux interdisciplinaires sur la parole et le langage, (38). https://doi.org/10.4000/tipa.4790

Guedat-Bittighoffer, D. & Dewaele, J.-M. (2024). Fluctuations des émotions éprouvées par des apprenants débutants dans cinq cours de Français Langue Étrangère : Une étude de cas multiples. Language, Interaction, and Acquisition, 14 (2),  279-305. 

Longuet, F. & Springer, C. (2021).Autour du CECR - Volume complémentaire (2018) : médiation et collaboration. Une didactique de la relation écologique et sociosémiotique. Paris : Éditions des Archives Contemporaines.

Kalaja, P. & Melo-Pfeifer, S. (dir.) (2024). Visualising Language Students and Teachers as Multilinguals: Advancing Social Justice in Education. Bristol: Multilingual Matters. https://www.jstor.org/stable/jj.20558241 

Miguel Addisu, V. & Thamin, N. (dir.) (2020). Recherches collaboratives en didactique des langues. Enjeux, savoirs, méthodes. Recherches en didactique des langues et des cultures, 17-2. https://doi.org/10.4000/rdlc.7272

Molinié, M. (2013). Une didactique des langues à l’épreuve de l’expérience mobilitaire, plurilingue, (trans)formative. Habilitation à diriger des recherches. Paris : Université Sorbonne Nouvelle. https://hal.science/tel-02561109 

Muller, C. (2021). Imaginaire et pratiques d’enseignement/apprentissage des langues. Pour une focalisation sur l’expérience intersubjective. Habilitation à diriger des recherches. Paris : Université Sorbonne Nouvelle. https://theses.hal.science/LIDILEM/tel-04691413v1 

 Puren, C. (2022). L’ « expérientiel » en didactique des langues-cultures. Essai de modélisation. [En ligne]  https://www.christianpuren.com/mes-travaux/2021c

Rivière, V. (2019). Le champ de l’interaction en didactique des langues : discours, pratiques, formation. Explicitation d’un cadre d’analyse et illustration par une recherche-formation.Habilitation à diriger des recherches. Cergy : Université de Cergy-Pontoise. https://hal.science/tel-02411358  

Saussure, L. D. (2024). Aimer une langue : de l’expérience linguistique à l’attachement. Études de lettres, (323), 21-42.

O colóquio acontecerá somente na modalidade presencial.

 

Propostas de comunicação

As propostas para artigos de 500 palavras (e no máx. 5 referências bibliográficas) devem ser enviadas para o site: https://aladun2025.sciencesconf.org/ 


Calendário 

Envio de propostas de comunicação: 15 de março de 2025

Retorno das avaliações: 26 de abril de 2025

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